Corte parcial (CPa) de mimosas (Acacia dealbata): geralmente INEFICAZ
No final de 2020 experimentei algumas variantes da técnica de descasque de acácias em busca de uma forma de obter resultados mais rápidos: as acácias submetidas a descasque demoram geralmente vários meses ou até anos a secar, podendo ainda libertar muitas sementes após o descasque, e era meu objetivo evitar este problema.
Uma das técnicas experimentadas foi o Corte Parcial e Descasque (CPDe): cortar toda a copa da árvore (para impedir a produção de sementes na primavera seguinte), mantendo o tronco até cerca de um metro de altura, e efetuar o descasque em anel junto ao solo (para garantir a morte da árvore mesmo que ela rebentasse acima do anel de descasque). Os resultados da aplicação desta técnica foram surpreendentes: algumas árvores nem chegaram a rebentar, morrendo por completo.
- https://www.biodiversity4all.org/observations/65727841 (árvore submetida a CPDe no dia 27/nov/2020)
- https://www.biodiversity4all.org/observations/106922438 (a mesma árvore em 17/fev/2022, mais de 14 meses após o corte parcial e descasque)
Esta constatação deu azo a algumas interrogações:
- Será que basta o corte parcial para que a árvore morra, eventualmente em resultado de um ataque por fungos?
- Mesmo que a taxa de eficácia não seja 100%, será suficientemente alta para se justificar a aplicação desta técnica em larga escala?
- O corte parcial de uma jovem acácia pode demorar apenas 5 segundos, mesmo quando realizado com uma serra manual; o descasque dificilmente demora menos de 3 minutos: será possível substituir o descasque pelo corte parcial de modo a poder atuar em áreas muito maiores com os mesmos recursos?
- Mesmo que muitas árvores rebentem após o corte parcial, será que irão rebentar apenas na parte superior do tronco (pouco abaixo do corte), permitindo a posterior realização de descasque junto ao solo?
Em fevereiro e março de 2022 foi efetuado o corte parcial de acácias numa mancha de média dimensão (algumas centenas de metros quadrados) situada na Mata do Sobral, formada por mimosas resultantes de germinação e rebentos de toiça/raiz posteriores ao incêndio de 2017. Essas jovens mimosas com cerca de 4 anos encontravam-se em flor e iriam disseminar numerosas sementes caso não fossem cortadas (em algumas árvores de maior dimensão - possivelmente rebentos de toiça - já eram observáveis algumas dúzias de vagens de sementes da primavera anterior).
- Registo de uma das primeiras ações de corte parcial: https://www.biodiversity4all.org/observations/107107479 - 20/fev/2022
- Registo de uma das últimas ações de corte parcial: https://www.biodiversity4all.org/observations/108861318 - 18/mar/2022
- A mesma mancha dois meses após o corte: https://www.biodiversity4all.org/observations/113010095 - 26/abr/2022
- A mesma mancha cerca de 6 meses após o corte: https://www.biodiversity4all.org/observations/133239678 - 01/set/2022
Comparando estes registos, constata-se que
- todas ou quase todas as mimosas rebentaram após o corte parcial: os rebentos surgiram timidamente durante o mês de abril e começaram a crescer rapidamente a partir do final do mês de maio;
- a rebentação deu-se ao longo de todo o tronco (não apenas na parte superior como se esperava), inviabilizando o descasque.
Conclui-se que o corte parcial não é eficaz, pelo menos se for realizado a partir de fevereiro.
Permanece uma dúvida: Por que motivo não se observou rebentação nas árvores submetidas a corte parcial e descasque em novembro de 2020? Que fator terá acelerado a morte dessas árvores?
- Terá sido o intenso frio que se fez sentir no final de dezembro de 2020 e início de janeiro de 2021 (com geadas sucessivas e vários dias em que a temperatura média se situou pouco acima dos 0ºC)?
- Terá sido o ensombramento? (As árvores cortadas em novembro de 2020 estavam inseridas num eucaliptal/pinhal adulto numa encosta voltada para norte; as árvores cortadas em fevereiro de 2022 situavam-se numa encosta sem arvoredo orientada para oeste.)
- Terá sido o maior tempo de dormência da árvore (5 meses de novembro a abril, em vez de 2 meses de fevereiro a abril), o qual favoreceu a entrada de fungos e a morte da árvore antes de ter a possibilidade de formar novos rebentos?
- Será que o anel de descasque junto ao solo acelerou a entrada de fungos no tronco e na raiz? (Nas árvores submetidas a corte parcial em fevereiro/março de 2022 também houve exposição de parte do tronco - muitas vezes era arrancada uma parte da casca juntamente com a copa da árvore - mas a maior distância entre o tronco exposto e as raízes poderá ter impedido que a infeção por fungos se estendesse à raiz.)
Pode valer a pena realizar mais algumas experiências de corte parcial noutros meses do ano (por exemplo em julho e agosto nos dias mais quentes em que as árvores estão em stress hídrico, ou durante os meses de setembro a novembro entre as primeiras chuvas e as primeiras geadas): eventualmente será possível obter bons resultados com esta técnica aplicando-a nos momentos mais adequados. No entanto, até serem conhecidos os resultados dessas experiências, será preferível aplicar e tentar otimizar outras técnicas de controlo, em busca de uma técnica que seja suficientemente eficaz e ao mesmo tempo suficientemente rápida para poder ser usada com êxito em ações de voluntariado.